Mudança climática ameaça população e economias latino-americanas, alerta ONU

Impactos climáticos extremos e alterações do clima estão afetando a região da América Latina
Por Redação

Foto: PMA/Lorena Peña Pacotes de alimentos preparados na Colômbia para distribuição em escolas na Venezuela.
Pacotes de alimentos preparados na Colômbia para distribuição em escolas na Venezuela.
Foto: PMA/Lorena PeñaPacotes de alimentos preparados na Colômbia para distribuição em escolas na Venezuela.
Pacotes de alimentos preparados na Colômbia para distribuição em escolas na Venezuela.

Impactos climáticos extremos e alterações do clima, incluindo secas, tempestades, ondas de calor terrestres e marinhas e derretimento de geleiras estão afetando a região da América Latina e do Caribe, da Amazônia aos Andes.

Os dados são do estudo sobre a situação do clima na região, publicado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, nesta sexta-feira, e destaca os impactos do clima para ecossistemas, segurança alimentar e hídrica, saúde humana e pobreza.

Agressões ao meio ambiente

De acordo com o relatório, as taxas de desmatamento na região foram as mais altas desde 2009, o que causa um impacto direto tanto para o meio ambiente quanto para a mitigação das mudanças climáticas.

Na América do Sul, a degradação da floresta amazônica é destacada como uma grande preocupação para a região, mas também para o clima global, especialmente pelo papel da floresta no ciclo do carbono.

Segundo o levantamento, o desmatamento na floresta amazônica brasileira dobrou em relação à média de 2009 a 2018, atingindo seu nível mais alto desde 2009. Além disso, 22% a mais de área florestal foi perdida em 2021 em comparação a 2020.

Efeitos econômicos e sociais

A OMM lembra que o último relatório do Ipcc mostra mudança nos padrões de precipitação, elevação das temperaturas e áreas passando por mudanças na frequência e gravidade de extremos climáticos, como chuvas fortes.

Com o aquecimento e o aumento da acidez dos oceanos Pacífico e Atlântico, um impacto maior deve ser visto na América Latina, ameaçando o abastecimento de alimentos e água.

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, explica que o levantamento mostra que riscos hidrometeorológicos, incluindo secas, ondas de calor, ondas de frio, ciclones tropicais e inundações, levaram à perda de centenas de vidas, danos graves à produção agrícola e infraestrutura, bem como deslocamento humano.

A análise do secretário-geral da OMM é confirmada pelo Escritório das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres, que registrou um total de 175 desastres durante o período 2020-2022.

Destes, 88% são de origem meteorológica, climatológica e hidrológica. Esses perigos foram responsáveis ​​por 40% das mortes registradas relacionadas a desastres e 71% das perdas econômicas.

Um exemplo citado pelo relatório são as inundações e deslizamentos de terra nos estados brasileiros da Bahia e Minas Gerais levaram a uma perda estimada de US$ 3,1 bilhões.

Nível do mar

Petteri Taalas adiciona que o estudo indica que o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos continuem a afetar os meios de subsistência costeiros, além do turismo, saúde, alimentação, energia e segurança hídrica, particularmente em pequenas ilhas e países da América Central.

De acordo com Taalas, em muitas cidades andinas, o derretimento das geleiras representa a perda de uma fonte significativa de água doce, usada para uso doméstico, irrigação e energia hidrelétrica.

Segundo a OMM, as geleiras andinas perderam mais de 30% de sua área em menos de 50 anos. Algumas geleiras no Peru perderam mais de 50% de sua área.

Mudança climática e pandemia

Na avaliação do representante da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe, Cepal, o agravamento das mudanças climáticas e os efeitos da pandemia não apenas impactaram a biodiversidade da região, mas também paralisaram décadas de progresso contra pobreza, insegurança alimentar e redução da desigualdade na região.

Outra análise do relatório é que a saúde e o bem-estar serão afetados negativamente, juntamente com os ecossistemas naturais. A Amazônia, nordeste do Brasil, América Central, Caribe e algumas partes do México provavelmente verão secas constantes, enquanto os impactos dos furacões podem aumentar na América Central e no Caribe.

Para Mario Cimoli, enfrentar esses desafios e seus impactos associados exigirá um esforço conjunto, com ações baseadas em ciência. Ele adiciona que o relatório é uma fonte crítica de informações científicas para a política climática e a tomada de decisões.

Principais resultados

De acordo com os estudos da OMM, a tendência de aquecimento continuou em 2021 na América Latina e no Caribe. A taxa média de aumento ficou em torno de 0,2°C por década entre 1991 e 2021, comparado a 0,1°C a cada 10 anos entre 1961 e 1990.

O estudo aponta que o nível do mar na região continuou a subir em um ritmo mais rápido do que globalmente, com destaque para a costa atlântica da América do Sul, no Atlântico Norte e no Golfo do México.

As análises apontam que a elevação do nível do mar ameaça uma grande proporção da população que está concentrada em áreas costeiras, contaminando aquíferos de água doce, erodindo as linhas costeiras, inundando áreas baixas e aumentando os riscos de tempestades.

Insegurança alimentar e deslocamentos

A insegurança alimentar atingiu um total de 7,7 milhares de pessoas na Guatemala, El Salvador e Nicarágua em 2021, causada pelos impactos contínuos dos furacões Eta e Iota, no final de 2020, e impactos econômicos da pandemia de Covid-19.

Outro efeito da mudança do clima são as migrações e deslocamentos. Segundo o estudo da OMM, Andes, nordeste do Brasil e países do norte da América Central estão entre as regiões mais afetadas pelo problema, fenômeno que aumentou nos últimos 8 anos.

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