Mudanças climáticas devido a El Niño deverão agravar clima no Brasil em dezembro

O assunto foi discutido em mesa redonda na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro
Por Redação

Foto: grandepiaui.com calor
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Na tarde desta quinta-feira 16, ocorreu na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, uma mesa-redonda “Crise climática e desastres como consequência do El Niño 2023-2024: impactos observados e esperados no Brasil”. O evento foi promovido pela ABC, pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas Fase 2 (INCT MC2).

O El Niño é um fenômeno que ocorre irregularmente, em média a cada três ou quatro anos, em que a distribuição de temperatura nas águas superficiais do Pacífico se altera, com consequências no clima do mundo inteiro. O El Niño deste ano foi decretado em junho e a previsão é de que seja particularmente forte, cenário agravado pelas mudanças climáticas. O Brasil é um dos países mais afetados pelas alterações causadas pelo fenômeno e discutir seus impactos é tarefa fundamental da ciência.

O diretor da ABC Roberto Lent abriu o encontro lembrando que as mudanças climáticas são um problema do presente e que é obrigação dos cientistas debatê-la e influenciar na tomada de decisão do mundo político. Na mesma linha, a diretora da SBPC e Acadêmica Ana Tereza Vasconcelos lembrou que educação e pesquisa são pilares para a mitigação do problema.

A diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá, afirmou que nenhum El Niño é igual ao anterior e que a entidade está atuando de maneira preventiva junto aos órgãos do governo. Representando o Governo Federal, a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Márcia Barbosa, que também é membra da ABC, defendeu uma atuação integrada do Estado. “Precisamos reconhecer que as coisas não estão isoladas. Meio ambiente, clima, agricultura e saúde dialogam, então precisamos de uma atuação conjunta entre os órgãos de governo”, disse ela.

O Brasil está entre os países mais afetados pelo El Niño. Entre as principais consequências está o aumento de chuvas torrenciais no Sul e secas intensas no Norte e Nordeste. A tragédia causada pelas inundações no Rio Grande do Sul em setembro está relacionada ao fenômeno. Para se ter uma ideia, uma cheia da magnitude da que ocorreu no Rio das Antas era estimada para acontecer uma vez a cada dez mil anos.

Outra consequência é a seca histórica que está afetando a Amazônia. O nível do Rio Negro nunca esteve tão baixo, e a tendência para os próximos meses é de piora. No caso da Amazônia, os efeitos do El Niño se somam ao aquecimento das águas do Atlântico Norte, consequência das mudanças climáticas, que afetam a umidade na Região Norte e intensificam a estiagem. “Tradicionalmente, nos anos de El Niño, a seca no Norte e Nordeste tende a ser mais intensa de dezembro a maio. O fato de já estar grave em outubro e novembro significa que dessa vez pode ser catastrófica”, alertou o coordenador-geral de pesquisa do Cemaden, o Acadêmico José Marengo.

A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Chou Sin Chan, especialista em modelagem climática, alertou que os efeitos do El Niño são sentidos também nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, tradicionalmente menos afetadas pelo fenômeno. Isso se dá principalmente pelas chamadas ondas de calor, causadas quando “domos de calor” se instalam, aprisionando massas de ar quente. É o que está ocorrendo neste momento no Brasil, levando a temperaturas recordes em várias capitais do país.

*com informações do site da da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

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