ONU cita Brasil ao falar de Genocídio em reunião

Em reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, situação dos indígenas no país é comentada
Por Redação

Foto: Foto: Reprodução Indios Brasil
Indios Brasil
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Brasil foi citado pela primeira vez nominalmente por uma representante da ONU ao falar da questão do genocídio. Numa reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, nesta segunda-feira(28), a situação dos indígenas foi apontada como alarmante.

Wairimu Nderitu, assessora do secretário-geral da ONU para a prevenção de genocídio, afirmou estar preocupada com povos indígenas nas Américas e mencionou o Brasil como um dos exemplos. "Na questão indígena, não podemos enfatizar mais", disse. "Na região das Américas, estou particularmente preocupada com os povos indígenas. No Brasil, Equador e outros países, eu peço aos governos para proteger comunidades em risco e garantir justiça para crimes cometidos", insistiu.

No Tribunal Penal Internacional, o governo brasileiro foi denunciado por entidades como a Comissão Arns e líderes como Raoní sobre a situação dos povos indígenas. Para os próximos meses, novas denúncias devem ainda surgir, também envolvendo a questão indígena.

Entre diplomatas brasileiros, a referência ao Brasil por parte de uma assessora da ONU é "preocupante" e revela que a situação do país está no foco internacional. O governo brasileiro rejeita a tese de um genocídio e tem participado de debates com uma postura dura sempre que o assunto é levantado. Mas a citação inédita leva o assunto a um novo patamar e acendeu o sinal de alerta dentro do governo.

Trocas de telegramas entre os governos do Brasil e de Israel revelam que os dois governos já chegaram a tocar no assunto de uma eventual denúncia se concretizar em Haia. Paulo Lugon Arantes, assessor do Conselho Indigenista Missionário, destacou a importância da referência ao Brasil em um debate oficial sobre genocídio. "Agora o governo recebeu uma mensagem de "early warning" (alerta) de um órgão especializado da ONU sobre genocídio, disse.

"É um alerta técnico e duro. Se o Brasil não reverter o quadro de atrocidades, reforça as alegações já analisadas no TPI, enseja o envio de novas alegações e fica exposto a outros mecanismos que responsabilização internacional", declarou. Em um discurso em nome do CIMI durante o debate, Arantes ainda citou "casos concretos preocupantes no Brasil, que indicam altos riscos de genocídio e outras atrocidades".

"Por exemplo, os crimes cometidos em Caarapó, em 2016, consistem em um ataque sistemático contra os povos Guarani e Kaiowá e atingem, pelo menos, o limiar do crime contra a humanidade", disse. Segundo ele, um total de 24 ataques, estudados exaustivamente, não representam eventos isolados, aleatórios ou desconectados. "Ao contrário, eles constroem juntos táticas bem organizadas, com a tolerância do Estado, nos termos do Artigo 7.1 do Estatuto de Roma e jurisprudência sólida, como o Ministério Público Federal já alertou a Justiça Federal", disse.

"Igualmente grave é a situação dos povos Yanomami e Ye'kuana, sistematicamente atacados por mineiros ilegais em seu território que também ameaçam os povos indígenas em isolamento voluntário", alertou o CIMI. "O governo é incapaz ou não quer impor uma ordem da Suprema Corte para evacuar os invasores não-indígenas", explicou. "Tal falta de vontade ou incapacidade de proporcionar reparação pode muito bem implicar uma mudança de competência para o Tribunal Penal Internacional", completou.

Com informações de UOL notícias 

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